Todos sabem que a insônia é um distúrbio do sono,
que aflige a vida de muitas pessoas. E sem dúvidas tem explorações muito
criativas no mundo cinematográfico e literário, como, por exemplo, Clube
da Luta de Chuck Palahniuk. Sono de Haruki Murakami,
apesar da diferente abordagem, não fica atrás. Afinal, é de conhecimento geral que
a insônia deixa a pessoa em estado de vigília, sem nunca alcançar o sono profundo
e a partir de então o cotidiano nunca mais será o mesmo. Mas você já se
imaginou noites a fio sem dormir, sem sono e sem qualquer tipo de prejuízo por conta disso? Então, é
exatamente essa a proposta de Murakami.
O conto já inicia com um relato da personagem sobre
sua primeira "crise" de insônia que veio e foi de maneira sorrateira
quando ela ainda estava na faculdade. A partir de então começamos a conhecer as
minúcias da sua vida, sua rotina, seus gostos, seus sonhos abandonados e seus
prazeres. A narrativa te cativa logo nas primeiras páginas, pelo menos assim
foi comigo. Peguei o livro fascinada com o acabamento, diagramação e
ilustrações e ali em um cantinho da Livraria Cultura comecei a ler, não
terminei, mas a história ficava ali na minha mente. Quando descobri que o livro
estava no acervo da biblioteca onde eu trabalho, quase dei um grito de
felicidade ali no meio das estantes.
Com o livro em mãos mais uma vez recomecei a
leitura e um dos pontos interessantes, que se percebe, inicialmente, é que os
personagens não são nomeados. Quem narra a história é uma mulher casada que tem
um filho e vive os dias presa em uma rotina constante e repetitiva. Em algumas
partes do livro a personagem diz que seus dias são tão iguais, que muitas vezes
ela não sabe se um fato aconteceu ontem, anteontem ou até mesmo no dia. Passada
a apresentação tanto da sua primeira crise de insônia quanto do seu cotidiano,
adentramos em sua rotina, compartilhando aos poucos a angústia de viver de
forma tão sistêmica.
Mas em uma noite, ela tem um pesadelo. Um velho
regando seus pés e uma paralisia da qual não consegue se livrar até o velho
sumir. Ela acorda apavorada e não consegue mais dormir, mesmo depois da
angústia do pesadelo ter ido embora, o cansaço e o sono nunca chegam. Assim, ela começa a viver uma
espécie de vida dupla: de manhã e a tarde, ela segue com sua vida sistêmica e
de noite dedica o tempo para fazer as coisas que lhe dão prazer, como a
leitura. Apesar de estar sentindo uma espécie de alívio, por poder se dedicar
ao que quer sem o cansaço, a dúvida sobre o que está acontecendo a deixa
inquieta.
Sono foi o primeiro livro que li de Murakami e
não deixou a desejar. O autor claramente trabalha uma metáfora, o que fica em
grande evidência com o final aberto (que só faz o leitor querer ler o conto
novamente, em busca de novas respostas ou detalhes que passaram despercebido).
As ilustrações ficaram por conta da Kat Menschik |
Uma das mensagens mais latente que o livro traz, creio que seja sobre a importância que damos ao que fazemos da nossa vida e com os nossos sonhos. Constante somos incitados a viver presos sob diversos medos e uma forma de vida que nos torna menos humanos, com processos que criam as relações automáticas e frias. E o pior de tudo é que muitas vezes nem nos damos conta, dessa constância.
Além de ser o primeiro livro que li do Murakami, foi minha segunda leitura de literatura japonesa. O que desde o primeiro livro (que foi O Outono do Álamo da Kazumi Yumoto) tem sido uma experiência incrível.
A leitura de Sono é uma leitura rápida, mas que gera diversas reflexões sobre a sociedade contemporânea e os indivíduos. E certamente não sairá da sua memória tão facilmente.
Além de ser o primeiro livro que li do Murakami, foi minha segunda leitura de literatura japonesa. O que desde o primeiro livro (que foi O Outono do Álamo da Kazumi Yumoto) tem sido uma experiência incrível.
A leitura de Sono é uma leitura rápida, mas que gera diversas reflexões sobre a sociedade contemporânea e os indivíduos. E certamente não sairá da sua memória tão facilmente.