[12 filmes para 2017] Clube da Luta (Fight Club, 1999)

Quando eu olho para a lista de 12 filmes para 2017 e vejo Clube da Luta incluso, eu penso um milhão de vezes porque eu não havia assistido antes.

Eu sei, eu estou burlando a primeira regra do Clube da Luta que é: não falar sobre o Clube da Luta, mas... Com certeza, a maioria de vocês conhecem a história desse filme, porém não custa nada relembrar. O narrador trabalha em uma empresa de seguros, tem uma vida estável de classe média e é compulsivo por compras. Saturado, ele passa a ter problemas com insônia e o médico recusa-se a receitá-lo algo que o faça dormir. Quando o narrador informa desesperado que está sofrendo, o doutor recomenda, ironicamente, que ele visite um grupo de apoio de homens com câncer nos testículos para testemunhar sofrimentos piores.

E isso é exatamente o que o narrador faz. Ele comparece ao encontro e se passa por um homem que sofre com o problema. Depois de participar de uma reunião, o narrador percebe que após liberar suas emoções, ele consegue finalmente dormir. A partir de então, o narrador passa a ser um viciado em grupos de apoio. Porém, algum tempo depois de começar a frequentá-los, surge uma outra impostora, Marla Singer, que o perturba.

Após negociar quais grupos eles frequentarão sem se cruzar, o narrador faz uma viagem a trabalho. Quando volta, descobre que seu apartamento foi destruído por uma explosão e pede ajuda a Tyler Durden, um vendedor de sabão que conheceu no voo, com quem se encontra em um bar. Na saída, depois de chamar o narrador para ficar em sua casa, Tyler o convida para uma luta e os dois acabam "brigando" no meio do estacionamento. Essas lutas acabam ficando frequentes e chamando a atenção de outros homens, que acabam participando também dos embates. Está formado o Clube da Luta.


Para os fãs de David Fincher, esse é um dos seus melhores trabalhos de direção. A narrativa do filme é fluída, prende a atenção de quem o assiste e sustenta muito bem o clima de mistério ao redor de Tyler. Baseado no romance homônimo de Chuck Palahniuk (infelizmente, ainda não o li), o próprio autor admite que a adaptação é extremamente fiel ao enredo da obra.

Edward Norton interpreta o narrador e Brad Pitt dá vida a Tyler Durden. Ambos estão impecáveis em suas atuações, as interações entre eles são palpáveis, convencem o espectador e transmitem a essência de um enredo que questiona a sociedade e seu modo de vida. Helena Bonham Carter (sim, sou suspeita a falar) está confortável na pele de Marla e não deixa a desejar absolutamente nada no papel de uma mulher completamente desequilibrada que vive uma relação absurda com Tyler.


Particularmente, filmes que possuem ordem cronológica inversa são os melhores, Clube da Luta não é uma exceção, e isso não é nenhum spoiler, a primeira cena do filme é um trecho do final e isso é dito logo de cara. Outro ponto positivo do longa é que diversas vezes o narrador quebra a quarta parede, utilizando-se de uma câmera participativa que dá a sensação de proximidade com expectador. A fotografia é bonita, mas nada que tenha chamado a minha atenção, as cenas de lutas foram muito bem coreografadas, a violência contida no longa está em doses na medida e a trilha sonora faz qualquer um arrepiar de tão fantástica. Destaque para os efeitos sonoros que levou o filme para o Oscar.

Clube da Luta é um filme que vira e mexe entra em pauta, seja pela sua narrativa crítica ao estilo de vida da sociedade moderna ou pelas inúmeras interpretações que seu enredo possibilita, é inegável a quantidade de discussões que o longa já proporcionou. Um dos maiores mistérios que permeiam seu universo é o nome do narrador-personagem. A verdade é que em momento algum dos 139 minutos de filme, o narrador é denominado e vários fãs criaram teorias de qual seria o seu nome.


A realidade é que Clube da Luta é uma metáfora de nossas vidas na sociedade do consumo. O narrador não precisa de um nome, ele pode ser qualquer um. Qualquer pessoa que seja uma consumista compulsiva, que perdeu a capacidade de perceber as sensações, que vive aprisionada nessa rotina que o sistema nos impõe. Suas frustrações acabam estimulando um mecanismo de defesa que materializa um ser totalmente contrário ao seu eu real. Diversas vezes eu me identifiquei com algumas situações em que o narrador se encontrava.

Um fato interessante é que o filme só foi considerado um sucesso anos após a sua estreia. A crítica na época de seu lançamento, no ano de 1999, foi dura e negativa. Apenas o The Guardian previu o seu potencial e o descreveu como inovador. Anos mais tarde, depois do lançamento do longa em DVD, a obra se estabeleceu como um filme cult.


Em 2013, o autor Chuck Palahniuk anunciou durante a Comic Con de São Diego uma continuação da história em uma Graphic Novel. Ela chegou ao Brasil em agosto do ano passado, mas nenhuma notícia sobre uma nova adaptação cinematográfica foi dada.

Clube da Luta só pode ser definido de uma maneira: Anarquista, anticapitalista, cruel e muito real. O enredo passeia e convida o expectador a repensar o seu estilo de vida, a quebrar barreiras que o sistema impõe. Talvez, de uma forma extrema, mas ainda assim é uma forma de voltar a realmente viver e sentir, nem que seja dor. Ah, e nunca esqueçam da primeira regra do Clube da Luta: Você não fala sobre o Clube da Luta.