[Resenha] A Revolução dos Bichos, George Orwell (1945)

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Meu primeiro contato com "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, foi durante uma aula de história na oitava série. A professora passou para a classe um filme que adaptava o clássico e, desde então, sempre esteve nos planos ler a obra. Esse momento chegou impulsionado pelo lançamento do audiobook da plataforma Tocalivros!


A pequena narrativa satírica acompanha a revolta dos animais da Fazenda do Solar contra as explorações e a tirania dos humanos. Aos poucos, a revolução que nasceu com o objetivo de trazer um contexto e realidade mais igualitário, acaba possibilitando a implantação de um sistema diferente de tudo aquilo que era sonhado.

Publicado logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a trama é claramente uma alegoria para os eventos históricos que ocorreram na Rússia, no início do século XX, e culminou no surgimento da União Soviética. Rápido e com uma linguagem acessível, o audiobook é dinâmico e leva os ouvintes a submergir no conto, graças à narração divertida e marcante de Fabio Porchat, além de Priscila Scholz e Flávio Costa darem voz aos animais da fazenda. A leitura do livro associada com o áudio permite uma experiência mais imersiva da história.

Aos olhos mais atentos, cada personagem é facilmente comparado à uma figura histórica, como por exemplo, Bola-de-Neve fazendo alusão à Trótski, o Sr. Jones à Nicolau II, Major ao pensador alemão Karl Marx e Napoleão à Stalin. Em certo nível, a obra é ótima para ilustrar os conturbados fatos daquele período, tão importantes para o desenrolar de vários outros que marcaram o século XX.

"Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros" | Foto: Barbara Novaes - Refração Cultural
Talvez, a grande polêmica desse livro seja o tom de crítica que serve como uma faca de dois gumes: se por um lado Orwell mostra os avanços e benefícios alcançados pela comunidade graças ao sistema mais igualitário, criticando regimes totalitários que se aproveitam de certas fragilidades sociais para alcançar o poder; por outro, há aqueles que podem interpretar a narrativa como uma ferrenha crítica ao socialismo, e usá-la como propaganda e arma ideológica contra o conceito, como já ocorreu durante o período da Guerra Fria, incomodando o autor declaradamente pró-socialista.

Com a entrada das obras de George Orwell em domínio público, é fácil encontrar um exemplar, inclusive sob o título "A Fazenda dos Animais" - tradução literal do título original da obra, que foi adaptada para "A Revolução dos Bichos", em meados de 1960, quando chegou ao Brasil, reforçando a visão deturpada de ser um livro anticomunista. A edição que li é a publicada pela Companhia das Letras, em 2007, que, além do texto na íntegra, contém o Posfácio - Repensando a Revolução dos Bichos - de Christopher Hitchens (2006) e os apêndices A Liberdade de Imprensa - Prefácio proposto por Orwell à primeira impressão inglesa em 1945 e Prefácio do autor à edição ucraniana de 1947.

Após a leitura, vale ainda a procura por outras obras complementares que auxiliem na desmistificação das referências históricas feitas por Orwell durante a narrativa, contribuindo para a ampliação do conhecimento e melhor entendimento da história. Por fim, seja como for, é inegável a qualidade e importância literária que "A Revolução dos Bichos" tem mundialmente. Apesar de dizer que é uma obra que deve ser lida por todos, também é preciso cuidado para que sua mensagem não seja corrompida, assim como os ideais igualitários dos revolucionários animais da Fazenda do Solar, sendo usada para apoiar e justificar a tirania.

Texto: Barbara Novaes

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