[Resenha] Garota Exemplar

23:52


Ficha Técnica:

Título: Garota Exemplar
Autor: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
Páginas: 443
Compre e contribua com o blog: Amazon


Sinopse:

"Uma das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise.

Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi. Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião pública e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo, e sem dúvida amargo, mas seria um assassino?"
_________________________________________________________________________________

Então, finalmente, eu estou aqui para resenhar um livro e prosseguir com minha meta de leitura (não, eu não desisti!!). "Garota Exemplar" virou um fenômeno logo após a estreia de sua adaptação cinematográfica em outubro de 2014. A partir de então, milhares de exemplares do livro foram vendidos em todo o mundo e seu enredo foi aclamado pela crítica.

Mas a verdade é que a obra de Gillian Flynn é um daqueles livros que formarão dois tipos de leitores: Os que amam a história e os que, simplesmente, a odeiam.

O thriller se inicia com o desaparecimento de Amy Dunne no dia do seu quinto aniversário de casamento. Nick, o marido, ao voltar do bar que possui com a irmã, encontra a casa toda revirada e sem ideia de onde a esposa possa estar. Desesperado, ele aciona a polícia que, inicialmente, suspeita de um sequestro. Mas, inesperadamente, as investigações começam a se direcionar à ele e Nick passa a ser o suspeito número 1.

Durante todo o enredo do livro, a premissa de mistério é mantida e sustentada. É possível se surpreender com as situações que os personagens enfrentam, elas chegam até mesmo serem inusitadas e em algum ponto da história é inevitável se perguntar o quão perturbado psicologicamente são alguns dos personagens apresentados na trama.

A genialidade de Flynn está justamente na construção desses personagens e do seu psicológico. Ela retrata pessoas comuns, que poderia ser eu, você, seu vizinho, um colega de trabalho e vai destrinchando o dia-a-dia daquela pessoa. O que seria algo rotineiro passa a ter extrema importância para que se costure toda a lógica do enredo no final. Ela não trabalha com seres perfeitos, na verdade a evidenciação das falhas de caráter é uma marca registrada da autora. Alguém que mente demais, alguém manipulador, alguém obsessivo, a cada aparição de um novo personagem você acaba esperando para ver o que há de errado com ele.

Assuntos mais pontuais e que estão em debate na sociedade também são ilustrados pelo livro como, por exemplo, a questão dos relacionamentos abusivos. É com o destrinchar do dia-a-dia do casamento de Amy e Nick que podemos questionar esses tipos de relações. A briga pelo controle dentro do casamento, as mentiras para manter ou sustentar uma aparência, até mesmo como as imposições da sociedade machista em relação a certos estereótipos ou atitudes que devem ser tomadas por cada um dentro da instituição estabelecida podem contribuir para a construção de uma relação abusiva.

Além disso, a crítica feita à imprensa e como ela tem o poder de influenciar as pessoas também é forte aqui. Flynn, talvez por ser jornalista e ter trabalhado por mais de dez anos na área, é incisiva quando descreve o jogo de poder estabelecido por dois programas de grande audiência: De um lado vemos um programa sensacionalista, que parte do senso comum, trabalha com o chamado jornalismo declaratório, tem uma apresentadora que sempre dá sua opinião radical sobre os temas retratados (como "Ele é um monstro! Matou a mulher! Pena de morte!") e que tenta desmoralizar a imagem de Nick, para que, caso ele seja indiciado e venha a júri popular, não tenha a mínima chance de ser absolvido (não é mera coincidência se você fizer um paralelo com alguns meios de comunicação hoje na imprensa brasileira). Do outro lado, vemos um programa que APARENTEMENTE é mais sóbrio, porém trabalha com o mesmo sensacionalismo, mas de uma maneira um tanto mais velada. Uma jornalista mais centrada, um convidado contando sua versão da história, no final a jornalista se emociona, faz o joguinho do convidado e... voilá! Temos duas versões para uma mesma história, totalmente opostas, contrárias e um verdadeiro cabo de guerra sobre quem influenciará mais a opinião pública. E nem sempre o melhor retrato da realidade foi apresentado.

Pode-se notar muito da realidade da autora incutida em sua obra, afinal não deve ter sido por acaso que Nick seja um jornalista que trabalhava em uma revista como crítico de cinema e TV antes de ser demitido, já que a própria autora teve a mesma profissão antes de se dedicar integralmente à vida de escritora.

O problema da narrativa é a saturação de informações. Claramente, poderiam ter sido cortadas, no mínimo, 150 páginas do livro. Flynn detalha nuances da vida do casal ou pensamentos dos personagens que não contribuem para a construção psicológica dos mesmos e, em alguns momentos, chega a perder o foco da trama, o que pode desmotivar a leitura, apesar da escrita da autora ser clara e acessível, o que na maioria das vezes, contribui para uma leitura rápida e sem grandes dificuldades.

Outro ponto que pode causar o desconforto dos leitores é a questão dos próprios personagens. Como já mencionado, eles são pessoas comuns e que tem dilemas humanos como perdas, desilusões, traumas. Não há, absolutamente, nada de especial ou extraordinário neles. É aí que vemos a distinção dos amantes e dos haters da obra. Um grupo (E eu, particularmente, estou inserida nele) pode achar irreverente a maneira como uma situação do cotidiano, no caso um casamento em ruínas, envolvendo pessoas cotidianas pode se tornar plano de fundo de um enredo surpreendente e instigante. Por outro lado, há leitores que acreditam que a história é rasa e não cativa, e pode-se creditar essa sensação ao fato que a forma de interação desses personagens com o leitor é despretensiosa quando se fala em cativa-lo, eles não querem criar um laço empático, mas apenas justificar seus atos, mesmo que eles sejam, no ponto de vista de quem o lê, injustificáveis.

Garota Exemplar”, portanto, é uma obra que instiga a uma reflexão sobre o que é um bom livro para você e nossos gostos literários. Um enredo intrigante, personagens com construções psicológicas irretocáveis, que sustenta toda a tensão, suspense e mistério a que se propõe, atual e crítico, proporcionando uma conversa com o leitor sobre questões de interesse público. Vale a pena forçar a barra quando começar a ficar um pouco cansativo e arrastado, pois a história desse casamento tem um plot twist que você não esquecerá tão cedo.




You Might Also Like

12 comentários

  1. Já ouvi muito falar sobre esse livro, mas não li ainda... Sua resenha ficou muito boa flor! Parabéns. Beijos!

    www.gotadechampagne.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Assisti o filme e gostei muito, o livro deve ser muuuuito melhor, né? Ótima resenha, beijos!

    ResponderExcluir
  3. Meu Deus, que santa coincidência. Um colega me falou sobre esse livro na faculdade hoje mesmo. Fiquei super interessada para ler, espero que seja uma boa leitura. Haha! Ótima resenha!

    ResponderExcluir
  4. Tua resenha me prendeu completamente! Histórias que divergem opiniões assim me atraem, fico desesperada pra ler e ter uma opinião formada. Eu nem sabia que existia um filme, mas sinto que se for ver o filme deixarei o livro de lado e lê-lo virou meta pessoal. Beijo!

    ResponderExcluir
  5. Quando eu vi o filme deste livro fiquei chocadinha e morta de arrependimento de ter assistido sem ler o livro, mas li ele em seguida e: <3 gosto muito do livro e sua resenha esta beeeem completinha, faz qualquer um ir atrás para ler também.
    Beijos

    ResponderExcluir
  6. já ouvi falar do a respeito do filme mais nunca assisti, depois de ler essa resenha despertou a curiosidade,a historia é muito marcante e interessante.

    ResponderExcluir
  7. Preciso confessar que sou louca nesse livro, é meu xodozinho da vida!! Sua resenha está maravilhosa!! Você escreve muito bem, parabéns!!

    ResponderExcluir
  8. Nunca vi uma resenha tão bem perfeita igual a sua, já estou louca pra ler esse livro. Beijos

    ResponderExcluir
  9. Nunca ouvir falar desse livro, mais sua resenha me interessou muito. Já quero ler o livro ❤

    ResponderExcluir
  10. Não tenho costume de ler livro, mas o filme me interresou, vou dar uma pesquisada e ve se acho, otima resenha

    ResponderExcluir
  11. Já ouvir falar muitas vezes desse livro, mas eu nunca sentir interesse em ler, mas vou procurar ler! Adorei seu blog♥

    ResponderExcluir
  12. Acho que é ligado ao suspense, amo livros assim ele me chamo a atenção e pela resenha deve ser muito bom mesmo. Com certeza entrará para lista de compras.

    ResponderExcluir

O que achou? Deixe seu comentário! :)
Obrigado por nos visitar

Refração Cultural no Facebook

Refração Cultural no Twitter

Subscribe