[Resenha] A História de O

17:46


Ficha Técnica

Título: A história de O
Autor: Pauline Réage
Editora: Círculo do Livro
Páginas: 189
Melhor preço e onde comprar: Amazon

Sinopse:

Publicada em 1954, em francês, é uma fantasia de submissão feminina de uma fotógrafa parisiense de moda que é vendada, acorrentada, chicoteada, marcada, feita para usar máscara, e ensinada a estar sempre disponível para o sexo oral, vaginal e/ou anal. Trata-se de um clássico do gênero erótico na linha de Venus in furs, pois o sadomasoquismo é seu ponto forte. É sobre uma jovem que no início joga como dominada, mas quanto mais resiste à tortura, mais gosta de ser escrava.
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Galera, precisamos conversar sobre "A História de O"

Antes de começarmos, apenas algumas considerações que se fazem necessárias. O livro "A História de O" estava em minha TBR do segundo semestre de 2015 que, como já conversamos, foi retomada junto com outros livros para a TBR de 2016 em respeito aos leitores do blog (se ainda não está por dentro da TBR, clique aqui e saiba quais os outros títulos listados). Eu iniciei essa leitura assim que eu publiquei a meta e o terminei em, aproximadamente, duas semanas, ou seja, há quase seis meses terminei esse livro. Porém, decidi adiar a publicação dessa resenha e agora, que estamos prestes a iniciá-la, talvez entendam o porquê.

Assim que terminei a trilogia da E. L. James, procurei por resenhas para comparar as minhas impressões com as de outras pessoas. Acabei chegando a um vídeo da booktuber Tatiana Feltrin, nesse vídeo ela faz uma menção ao livro "A História de O" e ela o indica. Depois vi um comentário da J. K. Rowling dizendo que não leria "Cinquenta Tons de Cinza", mas que também já havia lido "A História de O". Fui fisgada pela curiosidade e, por uma peça do destino, meu irmão havia pego nessa mesma semana o livro na biblioteca do colégio.

"A História de O" não é um livro erótico qualquer, que é romantizado ou sedutor, ele é daquele tipo de narrativa que se demora um tempo para assimilar sua história e poder criar uma impressão precisa para se expor em uma resenha. A dificuldade em absorver o enredo do livro não se deve a uma linguagem cansativa e entediante ou difícil, mas porque é uma história extremamente pesada e impactante.

Para lê-lo, despir-se de todo o preconceito é de extrema importância. Esqueça todos os outros romances eróticos da coleção Sabrina e Cinquenta Tons que já tenha lido. Não acredite que ele seja um livro para entretenimento, porque não é. Esteja ciente de que a narrativa é tensa, incomoda e sádica. O livro é bem curto, tento na minha edição 189 páginas, o que, normalmente, eu leria em, no máximo, três dias. Porém, é impossível lê-lo sem se incomodar profundamente com as situações que O se submete, não é qualquer um que chegará até o final da história.

O, a protagonista que nunca tem seu nome revelado, é levada até um castelo isolado chamado Roissy por seu amante para que aprenda a ser uma escrava. Como parte do treinamento, ela é acorrentada, chicoteada, usa máscaras, é inferiorizada, possuída por vários homens ao mesmo tempo, aprende a estar disponível sexualmente e a qualquer um sempre, perde sua privacidade, identidade e até chega a ser marcada a ferro como gado. E tudo isso consciente e com seu consentimento, a qualquer momento ela pode dizer não, mas ela se entrega a todos os caprichos de René, seu amante, e Sr. Stefan, amigo de René que compartilha os direitos de escrava sobre O.

Em um primeiro momento acredita-se que essa entrega é por amor, a construção de diálogos e pensamentos da protagonista nos faz acreditar nisso, mas depois é inquestionável o quanto O sente prazer com tudo aquilo, ela gosta de ser submissa acima de tudo, apesar de ser retratada como uma mulher independente, isso só reforça a ideia do quanto ela deseja tudo aquilo. Ela passa a amar mais o seu status de objeto sexual que pertence a alguém do que o seu próprio "Senhor". Apesar de toda a complexidade do enredo, é inevitável não levantar o debate e a percepção sobre a liberdade sexual do outro, enquanto o que pra mim é algo humilhante e impraticável, para o outro é algo instigante, excitante e prazeroso.

Esteticamente falando, a qualidade literária da narrativa é irretocável, as palavras escolhidas são leves, é sentido o estilo clássico dos romances franceses, por incrível que pareça, não é utilizado palavras obscenas e os diálogos e descrições das práticas retratadas na trama são colocadas de uma maneira como se fossem a coisa mais natural do mundo, mas não banalizando o ocorrido, nem também transformando as situações em bichos de sete cabeças. Pauline Réage utilizou um estilo direto e reto, a verdade nua e crua sobre a liberdade sexual feminina. Não é à toa que o romance se tornou o ícone da literatura erótica francesa e foi premiado com o Les Deux-Magots, prêmio de literatura erótica, em 1955.

Quinze anos após a sua publicação, em 1969, Réage publicou uma continuação da história de O, chamada Retorno a Roissy. Em 1994, a identidade real do pseudônimo Pauline Réage é revelada em uma entrevista à revista norte-americana The New Yorker, seu verdadeiro nome é Anne Desclos.

De certa forma, esse livro me causa uma contradição intrigante: Por um lado, me sinto extremamente incomodada em ler uma história tão cruel e sádica ou até mesmo indicá-la a alguém, mas por outro, eu não posso deixar de levar em consideração a ousadia do enredo, a força com que uma mulher tomou voz, em uma época em que mulheres não eram ouvidas, para tomar rédeas da sua liberdade de expressão e sexualidade, foi necessário esconder seu verdadeiro nome por anos, mas é esse tipo de atitude que tem dado notoriedade a movimentos como o Feminismo, por exemplo. Apesar de tudo, de todos os pontos positivos e negativos, "A História de O" é aquele livro que estará na nossa estante e vira e mexe sua história voltará a incomodar os nossos pensamentos, mas, após ser lido, nunca mais será apreciado novamente. Pelo menos, eu jamais voltarei a lê-lo.




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3 comentários

  1. Oi Bárbara!
    Gostei muito da sua resenha, e também tive vontade de ler após assistir o video da Tati Feltrin.
    Mas lendo sua resenha ficou claro que não é um livro pra mim hahaha
    Não sei se é o caso, mas acho que o livro pode me deixar indignada pelo tanto de submissão que deve ocorrer. Mas o questionamento é muito válido.

    Um beeeijo,
    Paloma
    surewehaveablog.com.br

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  2. Oi, Paloma, tudo bem?

    Que bom que gostou da resenha, mas é bem como eu sintetizei, o nível de submissão é extraordinário, tem que ter muita mente aberta para ler e não ficar um pouco indignada. Mas é o que eu disse, realmente ele me causa uma grande controvérsia, e apenas lendo para entender mesmo :)

    Grande beijo!

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  3. Fiquei tão nauseada lendo esse livro que levei dois meses para conseguir terminar a leitura. E ao terminar estava tão perplexa que demorei ainda alguns dias para organizar as minhas ideias. Num mundo onde as pessoas conhecem o BDSM dos 50 tons, ler algo tão visceral e brutal é chocante demais. Não sei como classificar essa história, mas me perturbou muito o fato de O ter sido manipulada, usada, abusada e descartada a vil vontade de seus abusadores. Recebi a indicação desse livro, mas sinceramente preferia nunca tê-lo conhecido. Gostei muito de sua resenha apesar de discordar que essa história fale de liberdade.

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