[Artigo] Qual a importância da Literatura?
12:45
Por: Barbara Novaes
Eu
aprendi a ler com 5 anos de idade. Quando descobri o que eu podia fazer com
aqueles símbolos que eu, agora, conseguia identificar, me apaixonei. Eu lia de
tudo: dos letreiros na rua até as bulas de remédio do meu avô, com todos
aqueles nomes estranhos que eu não sabia o que queria dizer, mas eu já sabia
decifrar como palavra.
Pouco tempo depois,
meu avô me apresentou os gibis e foi aí que eu não parei mais. De um gibi por
semana eu passei a ler dois, três, cinco, oito, eu cheguei a marca de 20 gibis
por semana com apenas seis anos de idade. Foi quando eu entrei na primeira
série e na escola eu fui apresentada à minha paixão da vida inteira: Os livros!
Aah, tal foi o meu encantamento quando eu entrei pela primeira vez na sala de
leitura do colégio, e antes que venha a imaginar, sim, era uma escola pública.
Eu sempre estudei em escolas públicas.
Eu não tive
incentivo de minha mãe para ler, mas o maior exemplo que ganhei foi o do meu
avô. Ele tinha livros e mais livros na estante de casa, e eu o via lendo todas
as manhãs enquanto fazia o café. Passei a ler tanto que até certificado de
"leitora assídua" da biblioteca do colégio eu ganhei. Ainda, assim,
uma das maiores questões que eu tinha, tanto quanto qualquer pessoa já se
questionou ou se questiona, era: Qual a importância da Literatura? No que eu
vou usar na minha vida?
Hoje, estudante de
jornalismo, pude perceber o quanto a literatura moldou meu eu, o quanto ela tem
uma parcela extremamente importante na minha formação e na de qualquer outra pessoa.
Foi (e ainda é) a partir dela que eu pude conhecer outras épocas, outros
lugares, outras culturas. Eu pude ter contato direto com outros povos, outras
crenças, outros costumes. Ela influenciou até mesmo na escolha de minha
formação acadêmica.
Naquela época em que eu descobri o fantástico mundo literário, eu mergulhei tão fundo em mim como pessoa, que nem ao menos me dei conta de como eu estava criando uma visão do mundo ao meu redor diferente daquela que minha mãe ou minha irmã tinham. Eu não pude perceber que eu crescia de uma forma diferente da forma que os meus irmãos estavam crescendo, não reparei na menina crítica que nascia, eu só sabia que não gostava da forma estereotipada que as pessoas tinham da vida e de ter que seguir regras que nem ao menos eu sabia o porquê. Eu não tinha o conhecimento de todas essas mudanças dentro de mim porque eu era apenas uma criança e, por mais que eu gostasse de literatura, esse era o motivo pelo qual eu me questionava quando no colégio eu tinha que aprender sobre os clássicos escritores. Eu era apenas uma criança!
Eu cheguei a
conclusão, também, de que foi por intermédio da literatura que eu que acabei
tendo profunda admiração pela diversidade do ser humano, foi por meio dela que
eu me encantei pela história egípcia, que eu curti as noites de farra alemã,
que eu desvendei mistérios pela Suécia, que eu senti o drama judeu nos campos
de concentração, que eu também fui uma vítima da ditadura militar brasileira.
Foi a literatura que me ensinou a enxergar com outros olhos os africanos, os
japoneses, os árabes. Ler foi o exercício de paciência, compreensão e empatia
mais bem aplicado que realizei e o que mais teve efeito significativo. Eu posso
não concordar com algumas atitudes ou ações dos meus personagens favoritos, mas
eu consigo respeitar e entender certas situações baseada no que eu conheço de
suas crenças e culturas.
Literatura foi
também sonhar acordada, criar e viver em mundos mágicos, foi ter contato com a
beleza do mundo, foi viver em um lugar onde por mais que as coisas dessem errado,
o final era sempre feliz para sempre. Ainda hoje é assim, quando o peso da vida
está árduo, as responsabilidades são tamanhas e minha mente se cansa, é o livro
que virá como super herói para me dar um momento de paz, de sossego, um momento
só para mim, onde nada além de o mocinho salvar o mundo e casar com a princesa
importa, ler também é estar bem consigo mesmo. E se você quiser argumentar
dizendo que "livros só servem para viver no faz de conta, isso é vida
real, meu bem", eu posso muito bem te dizer que livros também me
transformaram em alguém mais analítica, que absorve e critica as mensagens que
querem me passar, me tornaram mais consciente do meu papel e do meu lugar na
sociedade. A Literatura me ensinou a enxergar bem mais além, ler as entrelinhas
e não me deixar enganar.
Também posso
apontar que, mais do que uma forma de entretenimento, a Literatura me auxiliou
até mesmo na interação com as pessoas, na desenvoltura do meu vocabulário, no
conteúdo que eu tenho para compartilhar com os outros. Hoje, mais do que nunca,
podemos observar o déficit de leitores que temos em nossa sociedade, estamos na
era do "fala muito, mas diz pouco". Literatura é a arte de trabalhar com as letras e as informações de um modo que
possa ser reinventada, adaptada e criada com uma forma de conhecimento para a
sociedade.
E falar de Literatura é entrar em um intenso debate de como reverter essa sociedade deficiente de leitura que criamos. É procurar meios de auxiliar nossas crianças a também entenderem o porque estudar Literatura e não simplesmente obriga-las a lerem clássicos e não assimilar a importância que essas obras tem para suas culturas, seus autores e o tempo que elas compreendem. É criar uma discussão consciente sobre o estilo de vida que levamos em nossa sociedade, essa ideia incutida de que eu só valho o que eu consumo, o que eu tenho, o que eu compro e não o que eu agrego de valores, o que eu possuo de conhecimento, o que eu sou como pessoa.
Somos
nós que devemos procurar meios de tentar recuperar o gosto pela leitura, pela
imaginação, pela aprendizagem através do entretenimento. Somos nós que devemos
reinventar a Literatura para atrair a atenção de nossos jovens e até mesmo os
adultos que perderam o encanto pela arte dos livros. Somos nós que devemos
divulgar os novos nomes, quebrar estereótipos de que Literatura é somente feita
por Machado de Assis, Aloísio de Azevedo, Camões, claro que esses nomes são
muito importantes, porém temos leituras atuais que são tão boas quanto as
clássicas. Somos nós que devemos resistir à essa sociedade do espetáculo onde
aceitamos a imagem e negamos a palavra, onde todos almejam a visibilidade
máxima acima de tudo, onde um rostinho bonito ou um corpo perfeito é bem mais
atrativo do que uma ideia bem articulada ou conseguir ter uma visão aprofundada
da realidade em que se vive.
Depois
de tudo isso, agora a pergunta que realmente fica é: E aí? VOCÊ entendeu qual a
importância da Literatura?
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